sábado, 12 de novembro de 2016

Vamos falar de Black Mirror

Por que esse é um dos melhores produtos da TV nesta década?


O modelo de séries é um negócio bem conhecido por quem as assiste há algum tempo, principalmente o modelo americano. Quem nunca viu um procedural
CSI, House, NCIS, ou qualquer outra assim? As séries procedurais têm como sua principal característica o caso da semana. A temporada, muitas vezes, é desconexa e cada episódio conta uma historinha diferente, porém com os mesmos personagens. 
Com o passar dos anos as coisas foram se aperfeiçoando e a ideia da série procedural se tornou algo recorrente. Na década de 1960 se popularizou a série que revolucionaria essa questão e, principalmente, iria transpor algo que perduraria muito tempo depois. 
Além da imaginação foi uma série que popularizou a antologia episódica. 

*Antologia consiste em histórias diferentes em um determinado período de exibição da série. American Horror Story e True detective são exemplos de antologias por temporada. 

A cada episódio novas histórias eram contadas, personagens diferentes eram apresentados e isso tudo com maestria.
Esse formato possibilita dar liberdade aos autores. Como cada episódio é independente tudo pode acontecer, em uma semana é possível ver uma história de terror sendo contada, na seguinte uma simples aventura. Como se fosse um livro que compila contos. 
É genial.

Grande parte do material vêm de alguns anos antes, a literatura Pulp, mais barata, acessível e que brincava muito mais com conceitos considerados absurdos pra época. A terra sendo invadida por marcianos, raios encolhedores, aventureiros buscando artefatos bizarros e muito mais.


O estilo não se esvaiu, ele continuou por aí no mundo das séries. Porém era algo pequeno. O estilo procedural que falei lá em cima é quase que um fruto disso. Acontece que a antologia episódica sumiu do mainstream e acabou caindo em desuso. Afinal de contas, por que eu contaria uma história por episódio se eu posso construir uma trama maior que dure várias temporadas?


É em 2011, na Inglaterra que estréia o primeiro episódio de Black Mirror. Com um pé na porta e alguns socos no estômago a série mostrou pelo que veio: incomodar. 
Black Mirror em seu cerne se trata de um produto que vem para mudar e tirar o espectador de sua zona de conforto. Fazer pensar, parar de ver enlatados que não levam a lugar nenhum, incomodar, te deixar impaciente e te criticar de um jeito que ninguém faz. Charlie Brooker, o criador, conseguiu popularizar um produto que não é comum ver hoje em dia. Não, eu não to falando da antologia episódica e sim do modo de crítica. Nenhuma série tem a capacidade de transformar os espectadores em cachorros, nos maltratar e nos fazer pedir por toda essa experiência de novo. 

"Ah, mas sobre o que que é Black Mirror?"

A série usa o plano de fundo do avanço tecnológico pra contar histórias sobre pessoas. Relações humanas, mudanças e o questionamento da capacidade do ser humano. É um excelente experimento antropológico e um exercício de sociologia.

A 3º temporada acabou de estrear na Netflix e é nesse ponto que eu percebo o quão parecida com Além da imaginação é a obra de Charlie Brooker. Nem todo episódio é uma super crítica social. Nem todo episódio tem a função de acabar com você moralmente. Nem todo episódio é alto padrão nesse quesito. Não é assim que as coisas funcionam. 
Não espere ver uma obra prima em todo episódio de Black Mirror.

É de fato uma das séries mais importantes da atualidade. É a que mais experimenta, a que mais ousa e com absoluta certeza, a que merece reconhecimento geral.

Nenhum comentário:

Postar um comentário