Leia. Apenas
leia
Tinha um tempo que eu estava namorando este gibi. Não sabia
absolutamente nada sobre a história ou os motivos de ter sido feito, mas aquilo
me atraia. Não sei o que era. Capa, o Claremont no seu auge, não sei bem o que
me atraia.
Decidi procurar saber pelo menos um pouco sobre a história.
Falhei miseravelmente.
Desisti de saber qualquer coisa sobre o gibi até que
resolvesse ler. Após o aviso de uma amiga minha sobre um tal desconto numa loja, fui dar uma olhada.
Comprei, li e gostei pra caralho.
A edição que adquiri foi (se não me engano) o último
lançamento da panini. Um encadernado
bonitão, e bem feito lançado ano passado.
Antes de falar sobre a história em si a parada que precisa
ser não só citada como também comentada, é uma pequena entrada nos bastidores
da produção do gibi. Entrevistas com o Chris
Claremont e o ilustrador Brent Eric
Anderson.
De começo o Claremont já fala um pouco das suas inspirações
e tal, mas o que é mais interessante é que, em dado momento, ele cita a situação
que os EUA passava em 1982. O patriotismo estava voltando para o país e a
maioria das pessoas via a esperança não só em quem estava sentado no salão oval
da casa branca. As pessoas viam esperança em deus. Ele cita algumas pessoas
famosas da época que ficaram fanáticos com essa coisa de passar a mensagem de
deus. Quase como pastores.
Claremont fez um trabalho espetacular não só nessa Graphic
Novel, mas em todo seu trabalho nos x-men. O cara foi responsável por
vários pontos importantes para os mutantes e é considerado um dos responsáveis
por catapultar os mutantes para um público que nem a Marvel imaginava alcançar
com a equipe.
Várias coisas aconteceram na produção dessa história. O
ilustrador inicial seria Neal Adams
mas, rolaram umas tretas (que também se encontram nesse encadernado mais
recente da panini) e ele teve que deixar não só o projeto como também a Marvel.
A história, como eu disse antes, se baseia muito no que
estava acontecendo no país do titio Sam. Havia esses fanáticos religiosos que
se preocupavam muito em passar a palavra de deus para o povo. Alguns deles eram
tão radicais que decidiam tomar decisões extremas com a justificativa de que
“essa é a vontade de deus”. O personagem que representa isso no gibi é o até
então, reverendo William Stryker.
O Stryker é até conhecido pelas participações no universo
cinematográfico dos x-men, mais especificamente, em X-men 2 e Dias de um futuro
esquecido.
Aqui ele é um ex-militar que, por motivos revelados no gibi,
decide virar um reverendo e eliminar os mutantes. A razão disso também é
revelada ao decorrer da leitura. Para executar seu plano o reverendo resolve
realizar uma grande cruzada contra os mutantes e, frequentemente ele encoraja
as pessoas a fazerem o mesmo. Denunciarem, apedrejarem, e até matarem aqueles
que forem mutantes.
Simplesmente brilhante.
O grande lance é que os x-men sempre foram um reflexo das
minorias nos quadrinhos. E uma coisa que Claremont fala nas entrevistas é que,
na época, não havia muitos mutantes. A grande maioria se encontrava ali nas
histórias dos x-men, divididos entre a equipe de Charles Xavier e a Irmandade.
Isso é bem importante para a história porque se compararmos com o que acontece
no universo mutante hoje em dia é que eles quase deixam de ser uma minoria. Por
serem uma minoria em 1982 a pressão da sociedade em cima deles é maior, é pior
e mais angustiante.
O argumento da história é sensacional, é inovador e te deixa
muito curioso ao ponto de ler tudo em uma cagada.
Claremont diz que a história não poderia ser lançada na
edição mensal dos x-men por se tratar de algo muito pesado e com muito conteúdo
para abordar em pequenas edições. A Marvel estava começando a trabalhar com Graphic Novels e isso chamou a atenção
do roteirista, porém o que se espera ao saber disso é que ele irá se arriscar.
Arriscar a história, fazer algo diferente e sair da mesmice das edições
periódicas. Como se passasse em um “universo diferente do regular”. Apesar de
Claremont dizer que não tem nada a ver com o mensal da revista, não é bem
assim.
Acho que por uma decisão editorial grandes mudanças não são
feitas com a equipe. Vale lembrar também que o roteirista é conhecido por ser
“noveleiro” e não “decisivo” em suas produções.
Paradigmas não serão mudados ao ler essa história mas, é
algo excelente que foi feito há mais de 30 anos e não é datado. E esse era
exatamente o intuito de Claremont e Brent ao realizarem a história.
Um feito sensacional que é quase obrigatório de ler e que,
no geral, não decepciona.
Nenhum comentário:
Postar um comentário