sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A garota dinamarquesa - Sobre o Oscar

Um filme extremamente sentimental que propõe alguns questionamentos



Serei sincero com vocês: achei que estava preparado pra ver o filme, que era apenas um filme sobre um cara que quer ser mulher e fica por aí. Conforme o tempo ia passando, cenas desenrolando, eu percebi que tudo que eu pensava entender não é lá preto no branco.
É um filme de época se passando na década de 20. Obviamente boa parte dele se passa na Dinamarca e em alguns outros países da Europa. Eddie Redmayne vive Einar Wegener, um pintor de muito sucesso. Alicia Vikander é Gerda Wegener, mulher de Einar, também pintora mas, que não faz lá muito sucesso, ela não foi nem descoberta como artista ainda. Os dois têm uma relação boa, saudável e, logo no começo do filme, percebe-se uma grande amizade entre os dois. Eles são mais amigos que casal, é claro que rolam algumas cenas em que ambos provam seu amor, mas a sensação desde o começo do filme é que eles são amigos. E acho que isso é proposital já pra construir, aos poucos, o desejo de Einar se tornar uma mulher.
Sim, Einar vai aos poucos se interessando pelo universo feminino ao ponto de vestir as roupas de sua mulher pra se sentir bem. E isso é bem construído no filme, é bem explorado, as cenas em que ele se vê maravilhado apenas por sentir a textura de um vestido em sua pele são bonitas e têm um sentido grande no filme.
Esse desejo de ir aos poucos se tornando uma mulher é algo que o casal não vê, pelo menos Gerda não vê. Ela acha que é apenas uma brincadeira até que percebe seu marido gostando até demais disso.
E assim a trama do filme se desenrola.                
O filme é baseado em fatos, mais precisamente no diário de Lili Elbe, a primeira mulher que se submeteu à cirurgia de mudança de sexo. É bizarro pensar que tudo isso aconteceu no década de 20.


Redmayne parece estar se especializando em fazer papéis em que sofre, mas é disso que a academia gosta. Ele vira mulher, anda em salto, emagrece e sofre. Tá muito bem no papel, mas não carrega o filme não.
Alicia Vikander me surpreendeu muito. Ela sim carrega o filme, na minha opinião. A personagem dela é extremamente bem escrita e colocada numa situação considerada na época incomum, e ainda sim, ela segura a barra o filme inteiro.
Gerda não é a mulher convencional, dona de casa, que cuida de filhos e passa o dia inteiro cuidando das coisas esperando o marido chegar pra dar amor a ele. O casal não tem filho, e ambos trabalham pra cacete, mas Einar tem o trabalho mais conhecido, e Gerda não.
Os questionamentos femininos nesse filme são muito bons e muito fortes. Gerda é colocada em várias situações em que não sabe o que fazer e mesmo assim não pode contrariar o marido. Simplesmente por que ela é a mulher dele numa sociedade na década de 20.
Outras coisas que são abordadas no filme, fora o preconceito, são os “diagnósticos” da época. Uma pessoa homossexual era considerada doente, louca, e o pior de tudo é que tem gente que ainda acha isso verdade hoje em dia. É claro que naquela época era um negócio mais radical, chegando ao próprio médico escrever uma carta pra manda-lo ao manicômio.
O diretor, Tom Hooper tem um histórico com o Oscar, já fez O discurso do rei, Os miseráveis e alguns outros filmes que renderam prêmios aos atores e atrizes que participaram de suas obras. Em A garota dinamarquesa ele foca muito em passar as sensações que os personagens estão sentindo. O filme tem muita textura, as coisas têm textura, desde vestidos até a cidade. É um negócio difícil de explicar mas quando se entende, aí fica fácil de compreender e até mesmo sentir.


O filme tá concorrendo a: melhor design de produção; melhor figurino; melhor atriz coadjuvante(Alicia Vinkader); melhor ator(Eddie Redmayne).
Não sei se o Redmayne leva como melhor ator. Melhor figurino pode ser que ganhe. Já design de produção eu não achei lá essas coisas, porque vários momentos do filme parecem ser cidades genéricas de época.
Alicia Vinander é forte candidata ao prêmio, mas eu não sei por que caralhos ela não está indicada à melhor atriz.  

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